Nunca acreditou em histórias de vampiro. Desdenhava, esvaindo-se em gargalhadas, até que, na noite de núpcias, depois da sobremesa, o noivo cravou o colar de pérolas em seu pescoço, com os belos e doces dentes de marfim.
Quando
entrou na fruteira, a moça solitária e séria não imaginou que aquela melancia
enorme e apetitosa mudaria seu estado civil. Sorriu como há tempos não sorria,
ao ouvir o vozeirão ao seu lado: “Eu levo até o seu carro, é pesada.”
Lá no fundo da sala um
olharzinho redondo, quieto, parece estar ouvindo o que a professora explica.
Mas do lado de dentro passa um filme de protagonistas desvairados. Gritos, tapas,
estresse, escassez de fartura, barraco no barraco, gato de luz, gota de água...
Roda a fita, roda a cabeça sem rumo. Caminha na escuridão da consciência,
arranhado pela miséria, machucado pela existência, rumo às ciladas da vida. E a
professora explicando, preparando para a vida...
Do livro: Para bons entendedores... Minicontos bastam!